sábado, 28 de fevereiro de 2009

SOBRE O TCC
TCC = TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO.
Ou seja, um trabalho que conclui toda a minha trajetória no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina.
Algo que contemple o que fiz e fui durante os últimos nove anos de minha vida;
Algo que fale de todos os projetos e urbanismos;
Algo que mostre as teorias de arquitetura;
Algo que considere todos os livros que li durante o curso;
Algo que represente a riqueza existente em ser aprendiz;
Algo que denuncie o aluno que fui, muitas vezes alheio às regras e padrões pré-estabelecidos;
Algo que fale da política e do meu envolvimento direto durante três gestões do Centro Acadêmico;
Algo que fale de arte;
Algo que relembre os lugares que tive oportunidade de conhecer depois de ingressar na faculdade;
Algo que mostre a beleza que descobri nos encontros de arquitetura e em seus habitantes;
Algo que recorde das conversas informais que derrubaram paradigmas;
Algo que represente todos aqueles que já tiveram a oportunidade de se emocionar com uma arquitetura;...

...enfim, um trabalho que conclua toda a minha trajetória no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina.



SOBRE O OBJETO DE ESTUDO
Depois de ter ido a diversos encontros (vinte e seis ao todo), e ter conhecido muitas pessoas, lugares e costumes, me parece interessante a idéia de um TCC com o tema nos encontros de arquitetura. Na verdade não falo apenas dos encontros, mas sim das viagens que fiz, das coisas que percebi, e como tudo isso me auxiliou na formação como arquiteto e urbanista. Iniciei falando de sete encontros. Sete ENEAs (encontros nacionais de estudantes de arquitetura e urbanismo) compreendidos entre os anos de 2001 e 2007. Estes eventos são respectivamente: XXV ENEA João Pessoa, XXVI ENEA Curitiba, XXVII ENEA Ouro Preto, XXVIII ENEA Brasília, XXIX ENEA São Paulo, XXX ENEA Recife e Olinda, XXXI ENEA Florianópolis.
Mas com o decorrer do trabalho, esta delimitação perdeu força e ficou em segundo plano. Surgiram “as cidades dos encontros”. Seis percepções diferentes sobre os encontros, suas cidades e seus habitantes.



SOBRE A FENEA E OS ENCONTROS
A FeNEA (Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo) é a instituição que representa todos os estudantes de arquitetura e urbanismo no Brasil.
Tem sua origem, na década de trinta, ligada aos primeiros grêmios e associações estudantis dentro das escolas de arquitetura.
Atualmente representa mais de cinquenta mil alunos do referido curso, distribuídos por quase duzentas escolas pelo país.
Os encontros de estudantes são certamente os maiores projetos da FeNEA. Organizados juntamente com as comorgs (Comissões Organizadoras), os encontros reúnem estudantes das mais diversas regiões do Brasil. Podem ser: EREA (encontro regional), ENEA (encontro nacional) ou ELEA (encontro latino-americano).
Outras informações sobre a FeNEA podem ser encontradas no site da federação (www.fenea.org).



SOBRE AS CIDADES DOS ENCONTROS
“A cidade dos Encontros” é o conjunto formado pelas cidades: Hum, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis e Sete. Todas cidades fictícias, criadas a partir do meu conhecimento sobre encontros, juntamente com toda a experiência de vida que eu tinha. Vale ressaltar que a relação que faço entre um encontro e sua respectiva “cidade” é fruto, exclusivamente, da minha própria vivência no referido evento.
Possivelmente outro participante olharia um mesmo encontro sob outra ótica e encontraria uma cidade diferente daquela que eu encontrei.
Falar sobre um encontro, e sua enorme gama de possibilidades, é um exercício difícil e muitas vezes confuso e incerto. Querendo falar de sete encontros e de todas as coisas que nele existiam, acabei criando um caminho: optei por ressaltar uma “face” de cada encontro, ocultando as demais. Entretanto todas estas cidades estão presentes em um mesmo encontro. Com a cidade Sete chego a esta conclusão. Na verdade um encontro é composto por outras tantas cidades imaginárias, construídas pelo olhar de quem a observa.
Portanto neste trabalho falo de seis cidades que visitei, e por fim, encontro todas estas seis dentro de uma mesma cidade. Esta última representa Florianópolis, lugar onde vivo.



SOBRE OS TEXTOS
No início eram apenas lembranças isoladas de alguns episódios. Tinha dúvidas de como organizar meus pensamentos sobre os sete encontros nacionais, e criar uma linha de pensamento como base para um trabalho acadêmico.
Comecei a desenhar e, principalmente, escrever sobre cada um desses encontros. Onde aconteceram, quais foram suas atividades, quantos participantes houveram, como foi minha participação neste encontro.
Porém havia a preocupação de fazer algo relevante como trabalho acadêmico e não apenas um “incrível diário de Everson” e seus muitos encontros.
Surge então Ítalo Calvino e a história de Marco Pólo (ler: “SOBRE CALVINO E AS CIDADES INVISIVEIS).
Fiquei deslumbrado pelas narrações deste livro e me encontrei na pele daquele viajante que havia conhecido diversas cidades e relatado tudo para seu soberano. Eu era este viajante e a minha escola (entende-se como escola: professores, colegas, técnicos e espaço físico) era a quem eu deveria voltar e relatar as minhas novidades.
Cada encontro virou uma cidade, com suas individualidades e, apresentando uma característica cujo significado eu mesmo crio, partindo de minha vivência naquele encontro.
Os textos surgem no final do TCC 1 (junho de 2008) e apresentam uma forte semelhança com os escritos de Calvino. Foi como uma base firme, um ponto de partida para buscar minhas cidades. Com o tempo busquei me desprender da maneira de Calvino escrever. Algumas vezes sem muito sucesso.



SOBRE AS IMAGENS
Com o passar do tempo, conforme ia participando dos encontros, fui criando uma imagem mais clara a respeito desses eventos e sua dinâmica na vida dos encontristas.
Existe uma expressão muito utilizada para representar a diferença entre a realidade dentro de um encontro e fora dele. Diz-se “A Magia dos Encontros”.
Se definir um encontro de arquitetura não é algo muito fácil (ler: SOBRE A CIDADE DOS ENCONTROS), como explicar algo entendido como a “magia” de um encontro?
Esta era uma questão que eu tinha no início do trabalho, como poderei falar de algo tão subjetivo dentro de um trabalho de conclusão de curso?
Buscando a resposta para esta dúvida, comecei a criar uma representação mental de cada cidade. Esta representação é base para a criação dos primeiros textos. Os textos ganham força e, num segundo momento, a junção dos escritos e da técnica da Collage (ler: SOBRE A COLLAGE) resultam nas imagens que representam cada cidade neste trabalho.
As imagens falam por si. Nelas encontro pistas para solucionar a dúvida inicial sobre a “magia” de cada encontro (ou de cada cidade).
Encontro relações entre a cidade do saber e sua forma buscando uma espiral, o infinito, um conhecimento que não se acaba, por exemplo.
Percebo também a ligação entre dia e noite, céu e inferno, realidade e aparência dentro da cidade dos prazeres.
Na verdade todas as cidades carregam um grande simbolismo em suas formas, cores e proporções.
Entretanto acredito que a riqueza deste trabalho esteja na interpretação que cada observador dá sobre uma imagem e sua relação com uma cidade e com uma experiência de vida. Desenvolvo a partir do imaginário de quem observa.



SOBRE OS POEMAS
“Arte do Encontro” é o nome de um conjunto formado por dezesseis poemas, todos de autoria do jovem Daniel Paz, arquiteto e urbanista formado em 2003 pela Universidade Federal da Bahia.
Esta obra foi escrita em 2002, por ocasião do ENEA Curitiba. Narram desde a saída, na cidade de Salvador, até o retorno à capital baiana.
Busquei relacionar um poema com cada uma das cidades de encontro. Feitos durante um mesmo encontro eles falam de “diversas faces” desta cidade.



SOBRE OS DEPOIMENTOS
Este conjunto de depoimentos é formado por oito pontos de vista dos sete encontros em questão (o ENEA Brasília tem duas entrevistas).
Encontristas (alguns já formados) de diversas regiões do país apresentam opiniões em um breve relato sobre a questão: O que representou para você o ENEA (nome do encontro)?



SOBRE OS DESENHOS OU MAPAS DAS CIDADES
Tratam-se de gravuras feitas em abril de 2008, no inicio do TCC 1. Foi um exercício de rememorar a cidade sede de cada encontro. Buscando recordações de iam desde 2001 até 2007 (quanto maior a diferença de tempo, maior a dificuldade em recordar). Eu procurei avivar lembranças do encontro e da localização/implantação dos prédios e dos espaços que configuravam o perímetro da cidade de encontro. Segui uma regra onde cada desenho deveria ser feito em apenas cinco minutos! E assim eles foram feitos.



SOBRE CALVINO E “AS CIDADES INVISÍVEIS”

Enviados para inspecionar as províncias mais remotas, os mensageiros e arrecadadores de impostos de Grande Khan retornavam pontualmente ao palácio real de Kemenfu e aos jardins de magnólias em cuja sombra Kublai passeava enquanto ouvia os seus longos relatos
Ítalo Calvino, As cidades Invisíveis.

Nos primeiros encontros que tive com meu orientador, surgiu a história de Marco Polo, o viajante veneziano que, sob as ordens do imperador tártaro Kublai Khan, atravessou muitas léguas em várias viagens por cidades daquele império.
Ítalo Calvino, escritor italiano, na obra “As Cidades Invisíveis”, fala da fábula de Pólo por diversas cidades fictícias.
Foi esta narração de um viajante, e das suas cidades imaginárias, que inspirou o início do meu trabalho. Em uma analogia com as viagens de Polo, encontramos (eu e meu orientador) uma relação entre as cidades criadas por Calvino e os encontros de arquitetura. Cada encontro é percebido como uma cidade que não existe no mundo real. É uma cidade imaginaria. Surge então: “HUM”, a cidade do saber; “DOIS”, a cidade da diversidade; “TRÊS”, a cidade dos prazeres; “QUATRO”, a cidade dos modismos; “CINCO”, a cidade das artes; “SEIS”, a cidade da política; e, por fim, “SETE”, ou carinhosamente, o Templo.



SOBRE A COLLAGE
A imagem que eu tenho sobre os encontros, e suas diversas formas, muitas vezes é algo que vai além do mundo real. Cria-se uma dimensão do imaginário, uma realidade diferente do nosso plano cotidiano.
Encontrei, com o auxílio da professora Gladys, o universo da Collage e sua visão de uma outra realidade sobre paradigmas humanos.
Entendi a Collage como a arte de representar algo que uma máquina fotográfica nunca conseguiria. Fotografar um mundo fictício dentro da nossa mente. Representar uma realidade que (muitas vezes) é só nossa e atribuir um sentido para ela.
Durante o meu percurso no TCC, primeiro me atirei a fazer “montagens com fotos” para tentar representar a imagem que tenho sobre um encontro. Só depois tive acesso à base teórica e ao discurso acadêmico sobre Collage.
A Collage vem ao encontro do meu trabalho a partir do momento que surge como opção para representar um outro mundo.

SOBRE A OFICINA “VIAGEM À CIDADE DOS ENCONTROS
Logo após decidir sobre o tema do meu trabalho final, me propus a conhecer melhor os encontros, os participantes e toda a atmosfera que envolve este tema.
Montei uma atividade. Uma oficina chamada “viagem à cidade dos encontros” e que seria ministrada em todos os encontros regionais do ano de 2008. Dos cinco EREAs acabei sendo selecionado para quatro deles. Os quais aconteceram, respectivamente, nas cidades de: Presidente Prudente, Chapada dos Guimarães, Balneário Camboriú e Juiz de Fora. Ao todo foram mais de oitenta participantes, divididos em dezenove grupos nos quatro encontros.
A proposta da atividade era discutir sobre a palavra “encontro”, enfatizando outras formas das pessoas se encontrarem. Como, por exemplo: “vamos tomar um sorvete?” Esta frase fala de um encontro (entre duas ou mais pessoas) para tomar sorvete (possivelmente em uma sorveteria). Não importa o sabor do sorvete tampouco qual a sorveteria escolhida. O importante é quem está se encontrando, além de um lugar para isso acontecer. A PESSOA e o LUGAR. Estes eram os dois focos da oficina. Divididos em dois momentos, primeiramente cada equipe propunha um encontro para pessoas (seres humanos) dentro de um espaço “fora da realidade”. E depois, num segundo momento, propunha um encontro em algum lugar conhecido e para participantes que não poderiam ser seres humanos. Surgiram diversas propostas de mundos diferentes e participantes inusitados. Encontros “dentro de um Fusca que voava”, “ dentro de lâmpadas”, “ na Lua”, “para árvores”, “para porquinhos ou suicidas”, entre outros.
Ter ministrado estas oficinas foi um exercício bem produtivo para reconhecer melhor os encontros e seus habitantes.